Os incomodados que se retirem.



Tinha razão Jean Paul Sartre, quando dizia: " O inferno são os outros". Claro que ele deveria se incluir nesses outros de vez em quando, porque ninguém consegue agradar a todo mundo o tempo todo, e há sempre um momento que também infernizamos, mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis. Mas, vamos combinar, tem gente que já traz consigo uma áurea demoníaca, e onde quer que esteja irradia seus elétrons negativos. É aquele outro, homem ou mulher, que já chega com um spray de queixas, reclamações, acusações, intolerância, tudo culpa dos outros e menos dele, que sempre é a vítima. É o indivíduo que no trânsito tem sempre razão quando comete uma infração. Geralmente quer ser logo atendido assim que chega em um estabelecimento para resolver um problema, e é comum reclamar da atendente. Em restaurante só falta bater no garçom. Na escada rolante não espera a sua vez de saltar, sai na frente do outro, subindo ou descendo. Por favor, licença, desculpe ou obrigado não faz parte do seu vocabulário. Seu cãozinho faz xixi ou cocô nas portas dos outros. Fala alto no celular em salas de espera ou elevador. Põe um som bem alto sem se importar com o vizinho, seja em casa ou num meio de transporte. Assento de avião é só dele. Ele é o cara, o sabidão, e todo mundo é idiota. No ambiente de trabalho se acha o mais competente. E quando resolve ser político se auto-intitula o mais honesto. Geralmente é falador porque gosta de aparecer. Tudo isso pode, ou não, estar numa só pessoa, ou distribuído de formas diversas em várias criaturas, que podemos classificá-las, com toda a convicção, de incomodativas ou sugadoras de energia. Não me refiro aqui a caráter porque isto é outro assunto. Nem sempre falta de educação se deve ao caráter.

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