Quando um Livro conta a sua própria história.
Se um livro conseguir despertar o interesse pela leitura, mesmo que seja de apenas um leitor, já valeu o trabalho. Esta é a minha opinião como professora e escritora. Quando escrevi o meu primeiro romance, intitulado "Rainha sem Faixa", (foto) que conta a história de Beatriz, uma mulher que reflete sobre os ganhos e perdas da vida, após uma separação conjugal, tive a grata satisfação de ouvir de uma vendedora que trabalhava numa revistaria, localizada no antigo Shopping Aeroclube de Salvador, onde alguns exemplares deste meu livro estavam a venda, uma confissão que me emocionou e que talvez tenha me estimulado a continuar escrevendo. Ao me ver na revistaria, fazendo a prestação de contas das vendas com a proprietária, a vendedora veio ao meu encontro dizendo: "muito obrigado, eu não gostava de ler nada, mas depois que li seu livro tomei gosto e agora estou sempre lendo". Nesse momento o valor capital fica em segundo plano, porque o real valor do livro está na conquista do leitor, proporcionando conhecimento e entretenimento. Aliás, este meu livro está cercado de episódios interessantes, começando pela ilustração da capa, feita pelo artista plástico baiano Leonel Matos, que, segundo seu bilhete enviado na época, junto com o desenho da ilustração, ele estava numa "fase" Rainha sem Faixa, se sentindo injustiçado e subtraído. Quando olhei o desenho entendi na hora o porquê da figura de capa que nada mais era que seu auto-retrato. Em se tratando de uma obra de arte de um artista talentoso que, gentilmente, aceitou ilustrar a capa, concordei com o projeto, mesmo sabendo que as características físicas descritas da personagem Beatriz, não coadunavam com a do auto-retrato, e, por este motivo, fui muito questionada por alguns leitores que achavam que o rosto que ilustrava a capa não traduzia o espírito de Beatriz que é mais suave. Já outros elogiavam achando-a criativa, principalmente sabendo quem era o ilustrador. Dizem os entendidos que o que vende livro é capa, mas nesse comércio competitivo, na minha opinião, o que vende é mídia. Outro episódio interessante foi um e-mail que recebi de uma professora da Universidade Baiana de Santa Cruz, que, estando em greve, resolveu tirar um livro da Biblioteca da Faculdade onde trabalhava e o título "Rainha sem Faixa" chamou sua atenção. Começou a ler para passar o tempo e, segundo ela, achou maravilhoso, razão pela qual estava me escrevendo não só para me incentivar, mas dizer que devido ao seu comentário o livro não parava na prateleira. Por ter sido escrito na primeira pessoa ainda me deparei com perguntas questionando se o livro era autobiográfico. É que fica difícil para o leitor abstrair, principalmente quando conhece o autor, e houve um conhecido que me apelidou de Rainha sem faixa. Este livro teve a segunda edição através da Fazcultura da Bahia, em 2005, aprovado num projeto já encerrado, mas o selecionador gostou da história e o incluiu na lista. Os exemplares foram distribuídos gratuitamente para as diversas Bibliotecas Públicas de várias cidades do interior da Bahia, com outra capa, (ilustrada por Christiano Bomfim), que devido aos custos não podia ter as muitas cores do original. Mesmo sem nenhuma propaganda, de vez em quando recebo e-mails, até mesmo de outros Estados, como Macapá, elogiando o Rainha sem Faixa, o que me faz pensar em relançá-lo. Depois dele já escrevi muitos outros, inclusive dois infanto-juvenis, sendo que um deles, A Rebelião do Melão Amarelão e seus Amigos, foi adaptado para peça de teatro pelos alunos da 5ª série do Colégio Sartre COC Itaigara em Salvador.
Mas o primeiro livro ninguém esquece.